ACERVO SUELI CARNEIRO

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Biografia

Biografia

Nasceu em 23 de junho de 1950, mas foi registrada um dia após o nascimento, por isso celebra seu aniversário também no dia 24 de junho. As comemorações de seu aniversário costumam ser reservadas à  presença de familiares e amigos próximos.

Na adolescência, Sueli Carneiro se afastava de casa e se isolava para ler. A centralidade da palavra escrita em sua vida talvez tenha sido um incentivo para Sueli sempre recorrer à escrita ao se expressar.

Mas não pense você que as leituras da ativista sempre foi de Michel Foucault, autoras e autores de direitos humanos e feminismo. Seu primeiro livro foi o romance Capitães da Areia, de Jorge Amado, presente dado pelo amigo Paulo Silas, pessoa de quem sempre menciona com carinho. 

A mais velha de sete irmãos, Sueli Carneiro ama sua família e zela pelo seu bem estar, tanto a família nuclear, quanto a família extensa, que possui várias filhas, filhos e múltiplas amizades espalhadas por todos os lugares. Cuidar de toda essa gente é expressão de sua natureza.

Em 1972, Sueli foi aprovada no concurso público para auxiliar de escritório na Secretaria da Fazenda de São Paulo, onde foi designada para trabalhar na microfilmagem, um setor que tinha apenas mulheres negras. Neste momento conhece sua grande companheira de militância, Sonia Maria.

Em 1972, Sueli  presta vestibular e ingressa no curso de filosofia, na Universidade de São Paulo (USP). Vinte e sete nos depois, Sueli volta à universidade, dessa vez na Faculdade de Educação da USP, para defender sua tese de doutorado, intitulada “A construção do outro como não ser como fundamento do ser (2005)”, orientada por Roseli Fishmann. Em 2022, a tese foi publicada como livro, pela Editora Zahar, sob o título “Dispositivo de racialidade: a construção do outro como não ser como fundamento do ser”. Apesar da trajetória na universidade, Sueli é categórica ao repetir em diferentes momentos:  “não devo nada à universidade, quem me formou foi o movimento negro!”.

Aqui você também vai encontrar registros de vida acadêmica da ativista.

Sueli casou-se em 1973 com Maurice Jacoel, desse relacionamento nasceu Luanda Carneiro Jacoel, única filha de Sueli. Registros da gravidez e de seu casamento também serão encontrados aqui neste acervo.

Por conta dos processos de embranquecimento da universidade, Sueli sentiu muita necessidade de se conectar com sua ancestralidade e buscar elementos que a permitissem compreender uma matriz de pensamento africana e afro-brasileira. Em interlocução com Maurice, procurou o candomblé, em um primeiro momento como fonte de pesquisa, que rendeu artigos importantes, escritos em parceria com Cristiane Cury.

Em 1987, Sueli Carneiro foi iniciada no candomblé. Filha de Ogum e ekedi de Iansã. O encontro com a religiosidade de matriz africana a levou a compreender que sua bravura e busca por justiça estavam diretamente ligadas ao orixá que a rege. Meses depois da iniciação, Sueli Carneiro muda-se para Brasília com o objetivo de assumir a coordenação do Programa Mulher Negra do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), órgão sediado no Ministério da Justiça. Um destaque da presença da ativista no conselho foi a realização do Tribunal Winnie Mandela (1988). Esse foi um dos poucos eventos em que Eva Alves, mãe de Sueli, esteve na plateia, acompanhando o trabalho da filha. A foto desse momento, é guardada com muito carinho pelos membros da família, que carregam a fotografia de Eva na Faculdade de Direito da USP, onde foi realizada a atividade do Tribunal, em um chaveiro.

Geledés Instituto da Mulher Negra

Edna Maria dos Santos Roland, Aparecida Sueli Carneiro, Maria Lúcia da Silva, Aparecida Solimar Carneiro, Deise Benedito, Elza Maria da Silva, Sonia do Nascimento, Ana Maria Silva, Eufrosina Teresa de Oliveira, Lucia Bernades de Souza. Essas foram as mulheres que fundaram Geledés – Instituto da Mulher Negra, em 30 de abril de 1988.

Criaram a  organização para denunciar as desvantagens e discriminações sofridas pelas mulheres negras no acesso às oportunidades sociais que ambos os grupos, mulheres e pessoas negras, experimentam em função do sexismo e do racismo existentes no Brasil. Historicamente, Geledés  se posicionou de maneira crítica no movimento de mulheres e movimentos feministas, que não reconheciam as desigualdades entre negras e brancas e consideravam a mulher negra como protagonista das lutas por equidade.

Ao longo da trajetória de Sueli em Geledés, foram construídos projetos como SOS Racismo  ação que foi reconhecida pelo governo francês, proporcionando uma homenagem feita pelo Primeiro Ministro da França, Lionel Jospin, pelo Cinquentenário da Declaração Universal dos Direitos Humanos ,  Projeto Rappers, Geração XXI, Portal Geledés. Atualmente ela coordena o Centro de Documentação e Memória Institucional da organização.

Além da intensa atividade em Geledés, Sueli Carneiro sempre atuou em diferentes espaços. É fellow da Ashoka empreendedores sociais, ministrou  inúmeras palestras em todo o Brasil e no exterior, foi articulista do jornal Correio Braziliense, onde publicou 151 artigos. Integrou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), no primeiro governo Lula, como representante da sociedade civil. No início dos anos 2000 atuou como membra do corpo editorial da Revista Estudos Feministas. E atualmente, participa dos conselhos de organizações da sociedade civil, como: Conectas Direitos Humanos, Fundo Baobá, PerifaConnection, Fundação Tide  Setúbal, Instituto Acaia, Anistia Internacional, Instituto Tomie Ohtake e Comissão Arms.

Sua trajetória tem sido celebrada em reconhecimento e premiações como “Mulheres que fazem a diferença na vida do brasileiro”, da Revista Claudia, em 1997. Recebeu em 2002 o prêmio “IDEC Construção da Cidadania” na categoria Movimento Negro. Ganhou, em 2003 ,  o diploma "Bertha Lutz — Mulher Cidadã". Recebeu o Prêmio Itaú Cultural 30 Anos, em 2017. Foi honrada com o prêmio jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos em 2020. Recebeu homenagem pelos seus 70 anos na Congregação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Foi a primeira mulher negra a receber o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB), em 2022. Recebeu pela Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj), também em 2022,  o “Troféu Esperança Garcia”, mesmo ano em que recebeu a homenagem com Personalidade Literária do Prêmio Jabuti.

Em breve, na sede da Casa Sueli Carneiro, você terá  acesso à biblioteca de Sueli Carneiro, com 1501 itens que ela organizou ao longo da vida. Além dos quatro livros e inúmeros capítulos de livros escritos pela própria Sueli,  que abordam questões conjunturais, raciais e de gênero.

A trajetória de Sueli Carneiro é marcada por inúmeras contribuições à promoção de políticas públicas em benefício da população negra e temos trabalhado para reunir registros  desses importantes momentos nessa coleção de materiais separados por uma curadoria feita a partir dos arquivos da filósofa.

Agradecemos por ter chegado até aqui. Esperamos que com esse material, você possa se sentir ainda mais perto de Sueli Carneiro. E se você tiver documentos (sejam fotografias, textos, ou demais formatos) sobre ou de Sueli Carneiro que gostaria de doar para a Casa Sueli Carneiro, por favor, escreva para acervosuelicarneiro@casasuelicarneiro.org.br



 

Um abraço,

Equipe Casa Sueli Carneiro